sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sacerdote, o amigo de Deus



Essa é uma entrevista com o padre Aluísio da Comunidade Canção Nova, publicada no link: http://www.cancaonova.com/portal/canais/entrevista/entrevistas.php?id=990 em junho de 2010 em função do encerramento do Ano Sacerdotal. A Canção Nova entrevistou cinco sacerdotes e, todo dia, um deles partilhou sobre sua vocação ao sacerdócio. Essa foi a última entrevista da série: “Sacerdote, o amigo de Deus”. 
 
cancaonova.com: Nesta última entrevista da série especial “Sacerdote Amigo”, vamos conversar com o padre Aluísio, responsável pela formação dos seminaristas da Canção Nova e diretor espiritual das obras sociais mantidas pela Fundação João Paulo II. O tema de hoje é “Sacerdote, o amigo de Deus”. Obrigado por este depoimento, padre.­­­

    Padre Aluísio: É uma alegria, para mim, poder falar deste tema tão profundo, que é a amizade com Deus. Eu costumo dizer que nós aprendemos a conhecer a Deus dentro de casa. São o pai e mãe aqueles que nos apresentam Jesus. Meus pais tiveram essa oportunidade de apresentar Cristo para mim. Quando criança, eu via aquela imagem do Crucificado na parede e perguntava aos meus pais quem era Ele. E daí eles começaram a me explicar quem era Jesus Cristo e, assim, fui descobrindo que era possível conversar com Deus. Minha avó me ensinou que Jesus sempre nos ouve, o que me fez conversar com Ele nessa relação de amizade.

      Recordo-me que, alguns dias antes da minha Primeira Comunhão, vendo aquele padre celebrando a Santa Missa, eu pensava: “Um dia, eu serei igual a esse padre!” Mas eu também havia pedido um “sinal” para Deus: que se Ele me quisesse sacerdote eu seria chamado pelo meu pároco a ajudá-lo no altar. E isso aconteceu: momentos antes de começar a Celebração Eucarística da minha Primeira Comunhão, enquanto o sacerdote preparava o altar para a celebração, ele fez um gesto me chamando para me aproximar dele e aquilo me pegou de surpresa. Quando cheguei perto dele, ele me disse: “Eu sei que você fará a sua Primeira Comunhão hoje, mas eu gostaria que você me ajudasse”. Para mim, esta foi uma resposta do meu Amigo Jesus para que eu pudesse responder à vocação sacerdotal. Comecei como coroinha e, aos 13 anos, ingressei no seminário.

      O Amigo Deus cuida da gente! Fui para o seminário sem dinheiro e de carona com um caminhoneiro, que me deu uma ajuda financeira para seguir de ônibus até o seminário em Itapipoca (CE). Não consegui pegar o ônibus por causa do horário (era fim de tarde). Fui caminhando pela estrada e me sentindo desolado pela primeira vez em toda minha vida. Parei na beira da estrada e comecei a chorar, perguntando a Deus por que Ele havia me desamparado.
     Foi quando apareceu um carro naquela estrada e um homem me ofereceu carona. Como já estava tarde, aceitei e, ao entrar no veículo, aquela pessoa começou a dizer que eu não podia desistir, que Deus estava investindo em mim e que eu iria passar por muitas provações, mas não esquecesse que tenho um Amigo que acredita em mim e sempre estará ao meu lado. Chorei muito. Não conseguia falar mais nada! E nem havia dito para aquele homem nem aonde eu estava indo, quando ele parou o carro em frente ao seminário e disse-me: “Não é aqui que você vai ficar?” Aquilo me assustou muito!

     Quando encontrei o padre que me recebeu no seminário disse a ele: “Padre, eu não estou louco! Esse homem me trouxe até aqui sem saber para onde eu ia, me disse um monte de coisas e eu não estou doido!” O sacerdote me acalmou e perguntou: “Qual homem?” O carro havia desaparecido. Dias depois, em oração, Jesus me disse que havia enviado o Seu anjo para me levar até o seminário, pois eu havia me arriscado por Ele. Compreendi, então, que a amizade com Deus é feita de surpresas. Essa amizade é marcada por alegrias e provações. Nessa amizade, que dura “para a eternidade”, é necessário assemelhar-se ao nosso grande Amigo Jesus.

cancaonova.com: Por que o padre precisa ser amigo de Deus? Qual a importância dessa intimidade com o Senhor?
     Padre Aluísio: Jesus, quando chamou os Doze Apóstolos, os quis primeiro em Sua companhia. Só depois Ele os envia em missão. O padre é chamado, em primeiro lugar, a estar na companhia de Deus, a estar diante d'Ele. O sacerdote é um amigo do Senhor. Divide a própria vida com Cristo. Procura entender as coisas do coração de Deus. O padre é aquele que, por meio da oração, cultiva essa amizade, essa intimidade com Jesus. E essa intimidade fala de “tempo”. Você não fica com um amigo apressadamente! É necessário parar, conversar com ele, ouvi-lo... Muitas vezes, nós acabamos sendo essa “presença silenciosa”.

     A amizade com Deus tem essas fases: ora você fala e Deus o ouve; ora é Ele quem fala e você O escuta; ora o silêncio “fala” para os dois! Sabendo que o silêncio de Deus é sempre mais fecundo que o nosso. Aliás, o silêncio do Senhor fecunda o nosso! Essa amizade profunda com Jesus não pode ser “fechada”. É necessário, muitas vezes, que alguém nos auxilie a interpretar a relação dessa amizade. Minha relação com o Senhor não pode ser possessiva nem ciumenta: ela precisa me levar à abertura ao próximo, a oferecer o que tenho de melhor aos demais amigos de Cristo, pois os amigos d'Ele me interessam também.

cancaonova.com: Como Jesus tem manifestado concretamente esta amizade hoje em sua vida?
     Padre Aluísio: Hoje esta amizade acontece por meio de duas vias. A primeira via se dá através das pessoas, sejam os irmãos de comunidade ou esses mais carentes que atendemos em nossas obras sociais. A cada irmão que se aproxima de mim, eu percebo que sou este amigo de Deus, reconhecendo que Ele permite que eu cuide daqueles que também são os Seus amigos. E a segunda via é através da oração, pelo contato com a Palavra de Deus. Contato este que tem sido um grande “carinho de Deus” em minha vida! Usando de Sua Palavra, o Senhor tem manifestado Sua vontade para mim hoje. 

Moderadores: Equipe Djavan Barbosa

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